Criação Neurocompatível é uma forma de educar baseada nas normas evolutivas, de acordo com o desenvolvimento do corpo e cérebro da criança, uma educação voltada para a nossa evolução. As crianças são tratadas como seres humanos que são.
É também um movimento de ativismo a favor do desenvolvimento infantil que reúne pais, mães e profissionais interessados nas condições ideais pelas quais os cérebros humanos se desenvolvem e funcionam.
Trata-se de um movimento de respeito à criança, do tempo de desenvolvimento dela e das normas evolutivas. Ou seja, a educação neurocompatível baseia-se em como nosso cérebro, como seres humanos, se desenvolveu ao longo do tempo, e como podemos então funcionar da melhor forma com base nesses conhecimentos.
Isso permite uma criação de filhos mais harmônica e otimizada, dado que ela é simplesmente mais compatível com a natureza humana.
É importante notar que, apesar da educação neurocompatível ser um movimento amplo, de ativismo, ele foi idealizado primeiramente pela psicóloga Márcia Tosin, que em 2015 começou a falar a respeito do tema nas redes sociais e inclusive acabou cunhando o uso do termo “neurocompatível” justamente por se tratar de uma criação compatível com o cérebro das crianças humanas.
A criação neurocompatível tem foco na saúde mental sintonizada com as normas biológicas de nossa espécie, ou seja, acompanhando como realmente funcionamos como seres humanos de forma científica e evolutiva.
Bases da Criação Neurocompatível
Como base para sua construção, a criação neurocompatível se fundamenta principalmente em 3 ciências: a Psicologia Evolucionista, a Antropologia e a Neurobiologia. Ela não foi inventada do zero e sim pegou elementos dessas 3 disciplinas, já muito estudadas e que possuem embasamento científico, para compor seu conjunto de atuação.
Psicologia Evolucionista e o Neurocompatível
A psicologia evolutiva ou psciologia evolucionista explica o comportamento humano através de uma perspectiva evolutiva, chegando então ao que constitui a natureza humana universal.
De acordo com essa ciência, os problemas de adaptação que nosso cérebro evoluiu para resolver são os problemas existentes no ambiente no qual evoluímos.
Como o movimento neurocompatível tem essa linha de estudo como um dos seus fundamentos, isso significa que na educação neurocompatível buscamos entender por quais adaptações o cérebro humano passou e como ele reage na infância, sob o ponto de vista evolucionista.
Coisas como “será que o bebê realmente não deve chorar?”, como acaba sendo esperado pela gente em sociedade. Mas por que não deveria chorar? A natureza não selecionou bebês que choravam quando entendiam estar sob perigo?
Antropologia e o Neurocompatível
Já a antropologia estuda o ser humano e sua origem de maneira abrangente. Trata-se de uma ciência social que tem esse objetivo e busca nas características físicas, de cultura, linguagem e construções do ser humano, como eles se formam a partir de suas comunidades.
No movimento neurocompatível observa-se também, portanto, a cultura e comunidade em que o bebê ou criança estão inseridos, entendendo seu contexto social como forma também de apoiar o seu desenvolvimento.
Neurobiologia e o Neurocompatível
A neurobiologia faz parte tanto da biologia como da neurociência e busca entender o sistema nervoso, do qual nosso cérebro faz parte.
Temas como respostas emocionais e de motivação são profundamente estudados pela neurobiologia e são super importantes para o movimento neurocompatível, dado que buscamos entender as reações das crianças e também às nossas, a diversas situações.
Quando vemos, por exemplo, uma criança se jogando no chão de um shopping e um adulto nervoso, dizemos que a criança está fazendo birra. Mas como será que o cérebro e o corpo dela consegue agir neste momento? Ela tem as ferramentas necessárias para se acalmar sozinha? E quanto ao adulto?
Princípios do Movimento Neurocompatível
Agora que entendemos os fundamentos científicos que formam a base do neurocompatível, vamos falar sobre seus princípios norteadores, definidos pela psicóloga Marcia Tosin e seu grupo do movimento.
A criação neurocompatível tem como princípios norteadores:
1. Relacionamento com as crianças baseados na dignidade humana
Nenhuma criança deve ser diminuída por estar em uma condição infantil. Elas são tão dignas de uma relação saudável como qualquer outro ser humano e nunca menos que um adulto.
Achar que podemos fazer coisas só porque se trata de uma criança não é aceitável. Você não pode bater em uma criança só porque ela é…criança. Você faria o mesmo para corrigir um adulto? Isso se junta inclusive ao próximo princípio do movimento.
2. Ausência de práticas punitivas e de submissão
Entendemos que punir e submeter a criança não apoiam o seu desenvolvimento e não colaboram com seu processo de aprendizado.
Achar que ao bater está ensinando uma lição, ou deixando de castigo na frente dos outros ou qualquer outra humilhação, fará com que a criança “entenda o que fez” é um erro, porque ela simplesmente não tem capacidade de entendimento e porque essas ações vão gerar mais problemas do que alternativas saudáveis de desenvolvimento, pela forma como seus cérebros funcionam.
3. Regras e limites sociais estão inseridos na cultura e não devem ser impostos pelos educadores
Conhecimento de que regras e limites sociais são aprendidos na medida em que estão inseridos na cultura a que pertencem as crianças e não impostos pelos educadores.
Como pais, nos preocupamos muitas vezes em ensinar certos conceitos que não são socialmente aceitos. Coisas como “não pode bater no colega” ou “não pode pegar a borracha do coleguinha da sala sem pedir”. Esse tipo de comportamento é inibido pela própria sociedade ao longo do tempo e não precisam ser impostos pelos educadores.
Seu filho vai perceber sozinho, através da interação social, o que é aceito ou não naquele grupo, e começar a agir de acordo.
4. Educação centrada nas necessidades da criança
A criação é o ser mais vulnerável em todas as comunidades humanas, assim como ocorre em toda espécie animal. Por isso, a educação deve ser centrada nas necessidades dela e não dos adultos.
Vejam que incoerência: queremos que bebês façam coisas como parar de mamar cedo, dormir a noite toda, não chorar nos horários importantes pra gente e assim por diante, tudo em benefício do nosso tempo, nosso trabalho, nosso espaço. Mas são exatamente os bebês que são mais vulneráveis e precisam da gente e não o contrário!
5. Confiança nos processos de desenvolvimento de maturidade e biológico da infância
Sem pressões e padrões sociais escravizantes, confiamos nos processos de desenvolvimento da maturidade e biológico das crianças.
Respeitamos a diversidade existente (humanos são diferentes uns dos outros apesar de uma certa base em comum) e sabemos que cada criança amadurece em seu próprio tempo e que muitas das preocupações que temos não se aplicam, pois estão dentro de variações naturais de tempo e biologia. Por isso, damos espaço para que os processos ocorram.
6. Educação em rede ao invés de hierárquica
No movimento neurocompatível acreditamos que todos são iguais e importantes, tanto adultos como crianças, sem presença de poder e maior peso em uma ou outra direção.
Por isso, evitamos comportamentos como “agora essa criança vai ver quem manda aqui” ou “acho que ele ainda não entendeu, vou mostrar pra ele como se faz”. Não…você não tem mais força nem menos do que a criança a quem deve se dedicar.
7. Acompanhamento do ritmo natural nos marcos de desenvolvimento pelos pais e profissionais
Acompanhamos de acordo com o ritmo natural, o ritmo daquela criança, marcos importantes para seu desenvolvimento como conquista da marcha (início do “andar”), desfralde, desmame, aprendizagem de leitura e escrita e assim por diante.
Temos como premissa que só ama quem foi amado e por isso torna-se muito importante a participação de uma mãe neurocompatível ou quaisquer outros cuidadores neurocompatíveis na história da criança.
Crianças criadas a partir da educação neurocompatível
As crianças que são criadas através da criação neurocompatível tornam-se adultos mais resilientes e preparados para as adversidades da vida, demonstrando que não precisamos de padrões de obediência e dominação para ter adultos saudáveis, conforme indicado por outras linhas educacionais.